"Sou filha do Sol, trazida pelo vento. Sou verdadeira Bruxa por dentro. Bruxa nascida do fogo, meu espirito é soberano. Sou a transformação, a destruição e também sou a criação. Vivo com liberdade, criatividade e lealdade. Assim vão me encontrar. E se procurarem bem no fundo da fogueira, lareira ou de uma vela Os meus olhos vão achar na chama daquilo que queima o meu espirito, estará lá. Mas logo vos aviso, se mau intencionado estás, não procurarás"

Rosângela Amaral

25 novembro 2011

Cerridwen

Para os galeses, Cerridwen é uma Deusa Tríplice (Donzela, Mãe e Mulher de Saber), cujo animal de poder é uma grande porca branca. Ela é a Mãe que conserva todos os poderes da sabedoria e do conhecimento. É ao mesmo tempo Deusa parteira e dos mortos, pois o mesmo poder que leva as almas para a morte, traz a vida. De seu ventre parte toda a vida e a vida provém da morte. Do interior de seu caldeirão emana porções, com as quais Cerridwen comanda a sincronia de todo o Universo e intervém nos assuntos humanos para auxiliar seus adoradores.
Seu aspecto caracterizado em corpo de uma velha, representa o conhecimento de todos os mistérios que só a idade e a experiência podem proporcionar. Ela é a Deusa que devemos reverenciar nos momentos de dificuldades e anulação de qualquer tipo de malefício. Ela é a Deusa do caos e da paz, da harmonia e da desarmonia. Deusa da lua, dos grãos, da natureza. Associa-se a morte, a fertilidade, a inspiração, a astrologia, as ervas, os encantamentos, o conhecimento...Conta-se que Cerridwen, com a bebida de seu caldeirão transformava um homem comum em um rei. Sua história vem do País de Gales medieval e se encontra escrita em "O Mabinogi” (é uma coletânea de manuscritos em prosa escritos em galês medieval. São baseados em contos da Idade Média) de 1977.






Cerridwen viveu à margem de Llyn, um lago, casada com Tegid Foel, com quem teve dois filhos. Um era belo, mas o outro muito feio, chamado de Morfran que significava grande corvo. Pensou então que o único remédio contra esta adversidade seria torná-lo sábio. Para tanto, ela juntou ervas e fez para ele uma poção mágica. Demorou um ano e um dia para terminar a tal poção. Gwyon Bach, seu assistente, estava encarregado de vigiar o fogo e a poção, mas foi advertido para não bebê-la. Entretanto, quando três gotas a poção saltaram do caldeirão, Gwyon empurra o filho de Cerridwen e as bebe. Instantaneamente, ele possuía a sabedoria do mundo, sabia até mesmo que Cerridwen tinha a intenção de matá-lo. Ele fugiu e ela foi atrás dele, no que se chamou de "Caçada Mágica".
Gwyon transformou-se em uma lebre e Cerridwen em um cão, transformou-se então em um salmão e ela em uma lontra. Por último transforma-se em um grão de trigo, mas a Cerridwen em corpo de uma galinha e o come. Nove meses mais tarde Cerridwen deu à luz em Taliesin, o maior dos Trovadores Celtas. Depois de tê-lo em seu seio, não conseguiu mais matá-lo. Ela então o coloca dentro de um saco de pele e o introduz dentro de uma pequena barca, que fica a deriva sobre as ondas.
Elphin, filho de um rico proprietário de terras, salvou o bebê e lhe deu o nome de Taliesin que significa semblante radiante. A criança reteve todo o conhecimento e sabedoria adquiridos pela poção e tornou-se um importante e talentoso Bardo.






O caldeirão tem sua base mitológica na tradição celta. O vaso de prata era chamado de "Caldeirão de Regeneração". O sangue despejado dentro dele devia formar uma bebida regeneradora ou um banho. Também está registrado que o caldeirão deveria ferver até que produzisse "três gotas da graça da inspiração". Desta forma é conhecido como o “Caldeirão da Inspiração", produzindo uma bebida semelhante a "vida".
Este caldeirão da Deusa Cerridwen foi o precursor do Santo Graal. Afirma-se que no Graal havia uma fusão do caldeirão mágico do paganismo celta e do cálice sagrado do cristianismo, com os produtos tornados místicos e gloriosos.
A simbologia o torna uma ferramenta de transformação, mas também como a imagem do ventre materno. Acredita-se que o caldeirão é capaz de transforma a base material em espiritual, a mortal em imortal e de formar a bebida da imortalidade e inspiração.
O caldeirão do renascimento é um tema que se repete em muitos contos célticos de Cerridwen.





O nome Cerridwen é citado mais de uma vez no Livro Negro de Carmarthe, tal livro descreve o seu nome com o significado “Mulher desdobrada”. Esse livro é associado ao priorado de São João evangelista que foi escrito por volta de 1250. Seu nome hoje é chamado de o Livro Negro de Carmarthe, pois sua real capa era preta, tanto por fora quanto por dentro. Tal livro é o que chamamos de livro das sombras, só que este era de São João evangelista. Hoje é parte da coleção da Biblioteca Nacional do País de Gales. O livro contém uma coleção de poesia caindo em várias categorias. Há poemas com temas religiosos e odes de louvor e de luto. O foco de interesse de grandes estudiosos são os poemas relacionados à Lenda de Arthur e de Merlin, isso além dos trechos citados sobre a Inglaterra e do sul da Escócia. Cerridwen é citada no livro como uma grande feiticeira que fazia magias, unguentos e mudava o futuro das pessoas conforme o necessário.





Há uma lenda em Llyn no lago Bala, onde Cerridwen viveu, que enquanto ela estiver naquele lugar, “fabricando” seus unguentos, suas magias e mantendo o equilíbrio da vida e da morte, tal lago continuaria com uma fonte de vida tão rica, que jamais o homem seria capaz de compara-lo a outro lugar.
Atualmente descobriram mais de três espécies de peixes, um de molusco e várias algas que são somente presentes neste lago e em mais nenhum lugar do planeta tais espécies foram encontradas. Apesar desta variedade imensa de vida, hoje em dia ela esta sendo ameaçada devido a uma fabrica construída nas proximidades do Lago. Apesar disso, as autoridades tentam retirar a fabrica já que o lago Bala é a fonte de vida de muitas pessoas. Mais uma vez Cerridwen esta relacionada à vida e morte, mesmo ela sendo esquecida por anos devido ao cristianismo, assim como muitas outras também foram.



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